quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Crítica - "Ruby Sparks" (2012)
Uma enorme característica que temos enquanto seres humanos é a idealização. Quer seja de situações, pessoas ou objectos existe sempre uma tendência para pensarmos como gostaríamos que realmente fosse perfeito. No entanto, a vida não funciona assim. Já diziam os Rolling Stones que não podemos sempre ter o que queremos. Porquê idealizar a perfeição? Ora, porque existe uma concepção de que é necessário ter tudo perfeito para se alcançar a verdadeira felicidade. Sendo assim, ou não existem coisas perfeitas ou não existe verdadeira felicidade. Mas como não quero começar a filosofar em demasia, digo apenas que o filme sobre o qual hoje escrevo fala precisamente acerca de idealização.
Calvin Wier-Fields é um jovem escritor, prodígio em tenra idade, que nos últimos anos não tem tido ideias para histórias. Certo dia uma jovem aparece-lhe num sonho e Calvin decide escrever sobre ela e inventá-la na sua mente. Só que esta rapariga, a quem ele decide chamar Ruby Sparks, começa a viver muito para além da sua cabeça e torna-se uma realidade na sua vida, que ele pode alterar como bem lhe apetecer.
"Ruby Sparks" pode ser analisado de muitas formas. Pode ser um estudo intensivo sobre a fina fronteira entre a realidade e a ficção, pode ser uma análise à sanidade e necessidade de se alimentar do ficcional. Acima de tudo eu acho que é mesmo uma história sobre idealização. E que no fim me deixou realmente a pensar na forma como muitas vezes nos importamos com tantas personagens que não passam da ficção e tanto odiamos pessoas que existem mesmo. Será que se passassem a ser mais que isso, desejaríamos realmente que fossem assim tão perfeitas? Será mesmo possível gostarmos mais de uma idealização fictícia do que de certas pessoas reais? E porque é que nada é perfeito, mesmo quando assim o queremos?
Este filme adequa-se ao estilo "comedy-drama" muito utilizado em anos mais recentes mas que em boa parte dos casos resulta devido ao equilíbrio ente os dois géneros. "Ruby Sparks" é um filme sobre o amor. Interessantemente encontrei nela algumas reminiscências a certos filmes que tratam da mesma temática como o "500 Days of Summer" ou "Beginners" ( embora defenda que o primeiro continua a ser o meu predilecto no que toca a retratar a temática amorosa). Tem momentos incrivelmente cómicos e depois tem momentos de grande intensidade dramática, não exagerando em nenhum dos dois. A história podia facilmente ser usada de forma muito menos madura e fácil como um filme de Sábado à tarde da TVI,sendo apenas engraçadinho ou mesmo mau, no entanto é tratado com a seriedade que merece, dentro da premissa fantasiosa do filme.
E a questão mantém-se: quantos de nós não sonhámos já com a pessoa perfeita? "Ruby Sparks" reflecte as consequências de, hipoteticamente, se ter à nossa frente a pessoa perfeita, que eventualmente amamos e que nos ama de volta. Não deve ser visto como um filme pouco irrealista pois acho que o objectivo é mesmo criar um universo onde isso pudesse acontecer e que reacções nos traria enquanto eternos procuradores da perfeição. O seu maior defeito é cair num ou outro cliché previsível que torna certas partes do filme ligeiramente menos cativantes que outras, apesar de não se deixar cair demasiado ao ponto de se perder o interesse. O Calvin de Paul Dano ( num papel extraordinário há uns anos em "Little Miss Sunshine") é extremamente único e ao mesmo tempo identificável e a Ruby de Zoe Kaplan ( que também escreveu o argumento do filme) é simplesmente profunda e adorável
Decidi manter as expectativas baixas para "Ruby Sparks", mesmo querendo imenso ver o filme, e não saí desiludido. Para qualquer pessoa que já pensou em tornar perfeição realidade e que goste de romances bem contados, este filme é o ideal. Para já é o melhor que vi este ano.
Classificação: 9.5/10
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