domingo, 23 de setembro de 2012

Crítica - "The Amazing Bulk" (2012)


De vez em quando surge um filme que, mesmo sabendo que é mau, nos diverte por essa exacta razão. Em alguns casos nem sabemos explicar porquê. Sabemos apenas que aquilo está mal feito ao ponto de nos divertirmos como não deviamos. "The Amazing Bulk" insere-se noutra categoria dos bons maus filmes por razões que já passarei a explicar.

A história é a de Henry Howard, um cientista que anda a fazer experiências em ratos para desenvolver uma fórmula que prolongue a vida aos seres humanos. O seu chefe é o General, que é também o pai da sua namorada Hannah, a quem ele pretende pedir em casamento. No entanto durante as suas experiências, algo corre mal e Henry acaba por se transformar num ser monstruoso capaz de destruir tudo e todos no seu caminho.

Caso ainda não tenham notado, este filme é um plágio descarado à história da personagem "Hulk". Porém há uma diferença entre isto e outros filmes de plágio: "The Amazing Bulk" nunca se leva a sério. É impossivel que um filme destes se leve a sério. Nunca na minha vida vi um filme tão virado para o lado da galhofa, da implausibilidade e da preguiça como isto. No entanto, é magnifico. Ao passo que a maioria dos filmes maus que divertem, não resultem mesmo com intenções de o fazer, nunca me poderão dizer que isto foi feito com esse intuito. É que  nem sequer parece querer ser uma comédia, nem um drama, nem uma história de super heróis. A arranjar um género para isto, eu digo "Que raio?". Ninguém no seu perfeito juizo levaria a idiotice a extremos tão grandes se não fosse propositado.

Só para terem a noção do que falo: "The Amazing Bulk" não tem um único cenário. Todo o filme é gravado em ecrã verde com cenários irrealistas por trás. E,parecendo que não, dá muita vontade de rir ver cenas de pessoas a correr nestas circunstâncias. Como já disse, nada se leva a sério. As personagens parecem caricaturas de caricaturas e não existe autenticidade. Mas resulta porque essa falta de realismo é intencional.

Não é fácil falar deste filme. É,realmente, uma experiência única de cinema. Não por ser bom, não por ser mau, mas por ser ele próprio. Desde a ridicula premissa até aos efeitos visuais mais ranhosos que possam imaginar, "The Amazing Bulk" é uma espécie de obra prima e algo absolutamente indescritível enquanto cinema. Nem em sketches dos Monty Python eu vejo coisas destas. No entanto é uma barrigada de riso do principio ao fim. Experimentem que vão ver que se divertem à grande.

Classificação: Não tem. Lamento mas recuso me a classificar uma coisa deste calibre.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Crítica - "Ruby Sparks" (2012)


Uma enorme característica que temos enquanto seres humanos é a idealização. Quer seja de situações, pessoas ou objectos existe sempre uma tendência para pensarmos como gostaríamos que realmente fosse perfeito. No entanto, a vida não funciona assim. Já diziam os Rolling Stones que não podemos sempre ter o que queremos. Porquê idealizar a perfeição? Ora, porque existe uma concepção de que é necessário ter tudo perfeito para se alcançar a verdadeira felicidade. Sendo assim, ou não existem coisas perfeitas ou não existe verdadeira felicidade. Mas como não quero começar a filosofar em demasia, digo apenas que o filme sobre o qual hoje escrevo fala precisamente acerca de idealização.

Calvin Wier-Fields é um jovem escritor, prodígio em tenra idade, que nos últimos anos não tem tido ideias para histórias. Certo dia uma jovem aparece-lhe num sonho e Calvin decide escrever sobre ela e inventá-la na sua mente. Só que esta rapariga, a quem ele decide chamar Ruby Sparks, começa a viver muito para além da sua cabeça e torna-se uma realidade na sua vida, que ele pode alterar como bem lhe apetecer.

"Ruby Sparks" pode ser analisado de muitas formas. Pode ser um estudo intensivo sobre a fina fronteira entre a realidade e a ficção, pode ser uma análise à sanidade e necessidade de se alimentar do ficcional. Acima de tudo eu acho que é mesmo uma história sobre idealização. E que no fim me deixou realmente a pensar na forma como muitas vezes nos importamos com tantas personagens que não passam da ficção e tanto odiamos pessoas que existem mesmo. Será que se passassem a ser mais que isso, desejaríamos realmente que fossem assim tão perfeitas? Será mesmo possível gostarmos mais de uma idealização fictícia do que de certas pessoas reais? E porque é que nada é perfeito, mesmo quando assim o queremos?

Este filme adequa-se ao estilo "comedy-drama" muito utilizado em anos mais recentes mas que em boa parte dos casos resulta devido ao equilíbrio ente os dois géneros. "Ruby Sparks" é um filme sobre o amor. Interessantemente encontrei nela algumas reminiscências a certos filmes que tratam da mesma temática como o "500 Days of Summer" ou "Beginners" ( embora defenda que o primeiro continua a ser o meu predilecto no que toca a retratar a temática amorosa). Tem momentos incrivelmente cómicos e depois tem momentos de grande intensidade dramática, não exagerando em nenhum dos dois. A história podia facilmente ser usada de forma muito menos madura e fácil como um filme de Sábado à tarde da TVI,sendo apenas engraçadinho ou mesmo mau, no entanto é tratado com a seriedade que merece, dentro da premissa fantasiosa do filme.

E a questão mantém-se: quantos de nós não sonhámos já com a pessoa perfeita? "Ruby Sparks" reflecte as consequências de, hipoteticamente, se ter à nossa frente a pessoa perfeita, que eventualmente amamos e que nos ama de volta. Não deve ser visto como um filme pouco irrealista pois acho que o objectivo é mesmo criar um universo onde isso pudesse acontecer e que reacções nos traria enquanto eternos procuradores da perfeição. O seu maior defeito é cair num ou outro cliché previsível que torna certas partes do filme ligeiramente menos cativantes que outras, apesar de não se deixar cair demasiado ao ponto de se perder o interesse. O Calvin de Paul Dano ( num papel extraordinário há uns anos em "Little Miss Sunshine") é extremamente único e ao mesmo tempo identificável e a Ruby de Zoe Kaplan ( que também escreveu o argumento do filme) é simplesmente profunda e adorável

Decidi manter as expectativas baixas para "Ruby Sparks", mesmo querendo imenso ver o filme, e não saí desiludido. Para qualquer pessoa que já pensou em tornar perfeição realidade e que goste de romances bem contados, este filme é o ideal. Para já é o melhor que vi este ano.

Classificação: 9.5/10